terça-feira, 14 de abril de 2009

Enfim

Ele argumentou tanto...
Pediu para que tudo mudasse.
Rezou sem fé, criou a fé,
perdeu a fé...
Comprou o santo.
Prometeu rezar...
Por algumas horas cumpriu.
Começou a chorar,
e à razão sucumbiu.
Olhou a sua volta...
A cor negra o envolveu.
O verde fino e falho,
simplesmente sumiu.
Às lágrimas, rendeu-se.
Aos soluços, afeiçoou-se.
As possibilidades desapareceram.
À vida, negou-se.
A cama costumava ser macia,
mas em espinhos, tornou-se.
As rosas, antes vermelhas,
nem o odor lhe restou.
Às vezes levantava-se...
Causava espanto.
Um corpo antes sadio,
de repente, em prantos.
Tristeza em demasia.
Bebida em demasia.
Calmantes em demasia.
Já eram os últimos complementos
de uma conclusão tardia.
Como não entendiam?
Onde estava a empatia?
Mesmo após explicar...
Como não entendia?
O cansaço nos olhos.
O brilho se desfazia.
Aqueles relampejos verdes,
verdes não mais pareciam.
Esse tormento absurdo,
que enlouquecia a mente,
resultado talvez,
de uma mente vazia.
Os sonhos acordados,
nem um mais existia...
A gargalhada histérica
em uma vida de histeria.
Parecia ser o fim...
Sem mais condições de prolongar
todo aquele sofrimento,
que lhe parecia alegria.
Achou a possibilidade
de não mais sofrer
em braços frágeis,
sorriso em uma face fria.
O manto negro,
mais macio que a cama lhe parecia.
Seda fina...
Sem sentimentos...
nem tristeza,
nem alegria.
Quando abraçou,
sentiu metal cortante.
Em sua mão vermelha,
dor que, enfim, ele sentia.
Percebeu uma cor
que há muito não percebia...
Antes, sinal de euforia,
agora... A enxergava sombria.
Arrependeu-se
e viu um ponto verde no horizonte...
Resolveu mudar de vida.
Mas era tarde...
Demasiadamente tarde...
A Dama apaixonou-se.
O abraço tornou-se forte.
A seda, agora áspera,
desgastou sua sorte.
Desesperou-se e gritou por socorro...
Mas de nada adiantava...
Ninguém lhe ouvia.
Recitou um poema e,
com ele,
seu epitáfio escrevia.

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