quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Mesa de bar

Garçom, traga uma cerveja.
Bem gelada, pouco colarinho.
Muita sabedoria e uma pitada de carinho.
Hoje preciso de um ombro,
Um ombro amigo...
Um ombro que não deixe meu coração sozinho.
Vá depressa... A sede me mata...
Quando voltar, ouça um pouco
sobre meu caso de amor...
Sei que já ouviu muitos...
Sirva-me de professor.
Obrigada. Sente-se aqui.
Desfrute de minhas lágrimas,
auxilie-me nessa dor.
Não precisa falar nada,
entendo seu olhar.
Seus ouvidos atentos
já bastam para me consolar.
Amei profundamente...
Pro fundo foi esse amor...
Garçom! Traga provolone!
Frito, de preferência.
Se é para sofrer,
que saborosa seja a experiência.
Vá depressa... A fome me mata...
Quando voltar, ouça um pouco
sobre meu caso de amor...
Sei que já ouviu muitos...
Sirva-me de professor.
Obrigada por tudo!
Pela cerveja, pelo queijo
e pelo papel de espectador.
Já sinto-me melhor...
Pro fundo foi a dor.
Amei solitariamente...
Unilateral foi esse amor.
Na prática, sofri calada
as dores dessa dor.
Garçom!!! Traga minha vida!!!
Vá depressa... O vazio me mata...
Quando voltar, ouça um pouco
sobre meu caso de amor...
Sei que já ouviu muitos...
Sirva-me de professor.
Estou ficando bem...
Ou melhor, ficando ótima!
Aquele desgraçado que me fez sofrer
fará sofrer também a próxima.
Garçom, vou para casa.
Obrigada pela terapia.
Sinto-me um pouco tonta...
Preciso de uma ducha fria.
Pagar? Não tenho dinheiro.
Seja bonzinho e ponha na conta...

Ociosidade ativa

Ah! O ócio...
Todo homem deveria experimentar...
Acaricia a alma,
devolve a calma,
auxilia o pensar,
torna o tic-tac devagar.
Ameniza as marcas,
relaxa os sentidos,
restaura corações partidos,
o tic-tac cada vez mais devagar.
A cama é meu deleite,
o sofá, meu trono,
e o tic-tac tic-tac,
que a mim só traz mais sono.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Cansaço global

Essa vida agitada...
Sem tempo de ser...
Sem tempo de viver...
Apenas tempo de ser.
Tempo de ser nada...
Tempo de ser ninguém...
Importante sem importância.
Fama fracassada!
Intelecto cansado,
de ser desconsiderado,
deixado de lado,
por 15 minutos vulgares,
num ambiente infértil,
sem conteúdo,
vácuo...
Apenas luzes,
câmera
e ilusão.
Essa vida agitada...
Que nos faz reclamar
de aspectos importantes,
e trocá-los por
assuntos irrelevantes.
Tornamo-nos robôs
com emoções constantes,
almas padronizadas...
Reclamações de estresse,
em opções estressantes.
Essa vida agitada...
Fecundando seres vazios,
orgulhosos de manterem-se
com a televisão ligada
e a mente lavada.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Enfim

Ele argumentou tanto...
Pediu para que tudo mudasse.
Rezou sem fé, criou a fé,
perdeu a fé...
Comprou o santo.
Prometeu rezar...
Por algumas horas cumpriu.
Começou a chorar,
e à razão sucumbiu.
Olhou a sua volta...
A cor negra o envolveu.
O verde fino e falho,
simplesmente sumiu.
Às lágrimas, rendeu-se.
Aos soluços, afeiçoou-se.
As possibilidades desapareceram.
À vida, negou-se.
A cama costumava ser macia,
mas em espinhos, tornou-se.
As rosas, antes vermelhas,
nem o odor lhe restou.
Às vezes levantava-se...
Causava espanto.
Um corpo antes sadio,
de repente, em prantos.
Tristeza em demasia.
Bebida em demasia.
Calmantes em demasia.
Já eram os últimos complementos
de uma conclusão tardia.
Como não entendiam?
Onde estava a empatia?
Mesmo após explicar...
Como não entendia?
O cansaço nos olhos.
O brilho se desfazia.
Aqueles relampejos verdes,
verdes não mais pareciam.
Esse tormento absurdo,
que enlouquecia a mente,
resultado talvez,
de uma mente vazia.
Os sonhos acordados,
nem um mais existia...
A gargalhada histérica
em uma vida de histeria.
Parecia ser o fim...
Sem mais condições de prolongar
todo aquele sofrimento,
que lhe parecia alegria.
Achou a possibilidade
de não mais sofrer
em braços frágeis,
sorriso em uma face fria.
O manto negro,
mais macio que a cama lhe parecia.
Seda fina...
Sem sentimentos...
nem tristeza,
nem alegria.
Quando abraçou,
sentiu metal cortante.
Em sua mão vermelha,
dor que, enfim, ele sentia.
Percebeu uma cor
que há muito não percebia...
Antes, sinal de euforia,
agora... A enxergava sombria.
Arrependeu-se
e viu um ponto verde no horizonte...
Resolveu mudar de vida.
Mas era tarde...
Demasiadamente tarde...
A Dama apaixonou-se.
O abraço tornou-se forte.
A seda, agora áspera,
desgastou sua sorte.
Desesperou-se e gritou por socorro...
Mas de nada adiantava...
Ninguém lhe ouvia.
Recitou um poema e,
com ele,
seu epitáfio escrevia.

domingo, 12 de abril de 2009

Penso, logo sofro

Ando preocupada.
Não sabendo explicar nada.
Sempre esqueço tudo.
E lembro sempre na hora errada.
Preocupações atormentam minha mente.
Nada a toa. Sempre fundamentadas.
Preocupo-me por pensar demais.
Preocupo-me por não pensar em nada.
Questiono tudo, diversas vezes...
Até ficar atormentada.
Daí, preocupo-me com a qualidade,
pois a quantidade pode me tornar
uma pensadora frustrada.
Conversava com uma amiga,
sobre limites...
Com medo de ser limitada.
Penso muito, mas tenho medo
de não respeitar meus limites
e tornar-me demasiado complicada.
Conversávamos sobre a dificuldade
de chegar a uma conclusão,
pois toda conclusão ainda pode ser
questionada.
Meu medo paira sobre essa questão.
Sobre a falta de conclusão.
Sobre o medo de deixar minha mente
louca, decadente, atormentada.
Medo de sofrer...
Acabar comigo mesma.
Pensar até não mais conseguir
perceber que deixei de existir.
Como devo me ver?
Ser pensante ou ser que pensa?
Como pensar em questões profundas
e manter a sanidade?
Como fazer com que caminhem juntas?
Pensei que pensar deve ser prazeroso.
Um passatempo e não, algo penoso.
Mas, prazeroso por prazeroso, às vezes...
Não pensar em nada
também é tão gostoso...
Mas meu ofício é pensar.
Minha profissão é questionar.
No entanto, gosto de sempre ter
em tudo que faço, grandes doses de prazer.
Quando eu começar a sofrer,
vou tentar outra coisa para me entreter...
Roupas e sapatos substituirão,
Nietzsche, Heidegger e Platão.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Ajuda-te a ti mesmo

“O homem é naturalmente bom.”
Maniqueísta...
“O homem é naturalmente mau.”
Pessimista...
Que tal ser realista?
Ter outro ponto de vista.
Ser, para variar, imparcial.
Deixar de lado bem e mal.
E... Se considerássemos um contexto?
Um processo natural.
Luta pela sobrevivência,
julgamento racional.
“O homem é um animal político.”
Pode ser questão de interesse pessoal...
“O homem é um ser dotado de interesses.”
Sem sentido pejorativo, apenas literal.
Já dizia Machado de Assis
na questão dos burros...
O brilho nos olhos do que coça melhor
as costas do companheiro em apuros.
Não quer dizer que o prazer seja tão consciente
mas, não quer dizer que esteja totalmente ausente.
Às vezes, inconscientemente, o prazer,
seja ele proposital ou inocente,
é essencial, resultado natural.
Nada é descompromissado
nesse mundo desigualmente igual.
Humildemente, peço encarecidamente...
Não me julgue com senso comum,
prematuramente.
Leia e pondere imparcialmente.
Enxergue-se ser humano, honestamente.
Não se compare a Deus.
Esqueça a imagem e semelhança.
Permita-se abrir a mente.
O “dar-se” sem receber nada em troca...
Doar-se de corpo e alma inteiramente,
soa-me afirmação falsa, senso comum,
sinceramente...
Vasculha seu interior, consciente e
subconsciente.
Pense como é prazeroso... Como se sente...
Ao ver alguém necessitar de ajuda sua
e você estar presente.
Estender a mão e ajudar,
acariciar suavemente.
Fecha os olhos, vê como se sente...
Percebe como o peito abre e enche?
Vê o sorriso, a expressão contente?
Tenta conter a alegria... Dificilmente...
A sensação de poder...
Calma! Senta!
Poder ajudar... Utilidade.
Papel social, noção existencial.
Prova de ser presente, potente.
Qual a grande questão?
Precisa de algo mais concreto, racional?
Sentimentos mudam de acordo com o ambiente?
Tudo bem... Acredito que a Física complemente.
Lei da ação e reação... Algo lhe veio à mente?
Bom... Talvez agora me trate amigavelmente.
Continuando o raciocínio...
Questionarei novamente, algo diferente.
Se acha que ajuda desinteressadamente,
tenta não ajudar, mentalmente...
Responda-me: como se sente?
Se a resposta for “depende”,
talvez a visualização não foi boa o suficiente
ou então, deva ser analisado psicologicamente.
Algum sentimento tem que existir.
Sentiu-se bem? Descompromissadamente?
Guarda mágoa muito grande...
Cuidado com a pessoa amarga,
não a deixe desenvolver-se. Não permita que mande.
Entendi! A ofensa, a injúria, a ferida
foi grave, demasiadamente.
Concordo que situações extremas
causem traumas, às vezes, permanentemente.
Então voltemos às situações corriqueiras
que vemos no dia-a-dia, comumente.
Ainda se sente bem, ao ver alguém
chorando, caído, perdido, pedindo desesperadamente?
Sente-se bem ao virar as costas?
Fingir que não viu cinicamente?
Mesmo que nada faça,
creio que não é bem, bem o que sente.
Acredito que a resposta seja mal...
Menos mal! Parabéns, sinceramente.
Mostra que é humano.
Mostra que raciocina e, ainda sente.
Agora responda: gosta de sentir-se mal?
Ninguém gosta, naturalmente...
Então o que faz quando vem tal sentimento?
Desfaz-se desse mal-estar rapidamente?
Certo ou errado? Certo, certamente...
Diante daquele ser necessitado,
falado, citado anteriormente.
O que fazer para evitar? Ajudar!
Ajudou? Como se sente?
Sente-se mais leve, tranqüilo? Obviamente...
Então, houve resultado?
Benefício dos dois lados devido à sua ação?
Que bom...
Percebeu benefício para si mesmo?
Percebeu que teve interesse?
Percebeu que não ajudou a esmo?
Achou tal resultado ruim?
Tenho certeza que não pensa que sim.
Por que não, ajudar alguém a se sentir bem?
Por que não, ser responsável por dois auxílios?
Vê quão potente pode ser?
Quão importante é perceber,
que altruísmo é isso...
Fazer algo benéfico para o próximo
sem esquecer-se de se inserir nisso.

terça-feira, 7 de abril de 2009

O que o amor acarreta

O que o amor acarreta

Ensina-me o que é o amor.
Ensina-me a amar seja como for.
Quero aprender a sentir
sentimentos sem pudor.
Dê-me um beijo seu
e me desperte desse torpor
que me atormenta,
me esfria e ao mesmo tempo esquenta.
Perceba meus arrepios
pelos sussurros não dados.
Perceba meus olhos
atentos feito soldados.
Apareça em meus sonhos sempre que puder.
Olhe-me com olhos verdadeiros.
Veja-me como mulher.
Se me ama como me diz na carta de seus olhos,
saberá que essa pessoa sempre existiu.
Que você sabe, mas não assumiu.
Se acha que os olhares te maculam,
não importa, pois os meus...
Ah... Os meus te perpetuam.
Olhe para frente...
Perceba a majestade do rio.
Mas não olhe apenas nessa direção
afinal, perderá a razão,
pois a correnteza te carrega
sem dar chances às mudanças
que o amor acarreta.
Sim, o amor traz revoluções,
as quais, se verdadeiras,
se auto-tatuam nos corações
dos enamorados,
que precisam de compreensão
da parte dos atordoados,
que não dão atenção
ao lilás das flores no campo,
dos olhos brilhando
vistos com espanto
por quem não sabe
a caminhada certa
que a vida dita
como o que o amor acarreta.
E, se pedi que me ensinasse,
não é porque te intitulei como mestre,
mas sim, porque achei que me amasse.
Então percebi algo muito importante...
Seu amor anda meio distante
de meus ideais julgados por ti como gigantes
e por mim, como simples desejos...
Quando os julgou pude ver
que, apesar de minhas tentativas de festejos,
seus olhos viviam virados para sorte
em vez de trabalho,
sem perceber que a morte
não se pode guardar na gaveta do armário...
Pois ela é a única que sabe
arrancar a lágrima da maneira correta,
para deixar os espírito na ânsia
de saber, finalmente,
o que o amor acarreta.


Escrito no ano de 2002.